Jardim Selvagem

Este texto foi escrito por uma amiga
Alguém, algures,que tem o dom da escrita
Dona de um fotoblog...
Acabou, resignada com o tipo de comentários!
gostava que lessem e dêem a vossa opinião...
Eu cá axo que ela escreve lindamente
Não quero infuenciar ninguém, mas axo pena
que desista. Quis mostrar-lhe que na blogosfera
As pessoas não olham somente para as fotos...








Jardim Selvagem


A realidade que me aguardava, o meu presente, o meu futuro tinham agora um estranho sabor insípido. As recordações estavam mais fortes que nunca. A saudade imperava e nada do que me rodeava parecia sequer real. Uma profunda sensação de vazio atingiu a minha alma. Senti-me preso dentro de mim, preso às minhas recordações ou seriam elas mesmas uma forma de libertação? A neve do meu sonho gelava-me a alma como se mil facas perfurassem todo o meu ser....
Olho-me ao espelho. Vejo caras, muitas caras, os rostos de tanta gente que relembrei no meu sonho que fui buscar ao meu passado, nenhuma delas a minha. O rosto que procuro, a minha identidade perdeu-se algures entre o passado e o presente entre a fantasia e a realidade. Saio desorientado do quarto deixando para trás o chão repleto de estilhaços de espelho com pedaços de caras sorridentes...
Saio descalço, atravesso corredores, quadros, tantos quadros, demasiados olhos focados em mim...Finalmente encontro o jardim, o meu triste jardim...Nada nele me recorda o meu sonho. Uma brisa matinal de outono fustiga o meu rosto e enlaça a minha volta milhares de folhas secas há muito mortas pelas rajadas cruéis do vento. Olho em meu redor. Tudo o que vejo são arvores parcialmente despidas, gigantes impiedosos a abaterem-se sobre mim sem dó... As roseiras não passam de um emaranhado de espinhos sedentos de sangue e vida. Algures, no labiríntico jardim abandonado procuro um sinal de mim mesmo. Desnorteado, sem rumo, caminho embrenhando-me naquele lugar sem tempo, esquecido de todos, esquecido de mim...
Avisto um rapaz, ou um homem? Não tenho a certeza...Presigo o seu vulto não me importando com as chagas que as roseiras me infligem á medida que corro. Rostos desconhecidos espreitam por entre as árvores. Desconhecidos? Esquecidos! Memórias apagadas, partidas do subconsciente...Corro ate chegar a uma parte do jardim completamente diferente. O jardim do meu sonho e o vulto desaparecera...
Os odores perfumados regressam do meu sonho, a beleza e magnitude extasiam-me como outrora me fizeram extasiar...Sentada repousando á sombra de uma frondosa arvore está uma senhora idosa olhando-me como se me esperasse.
O tempo já não fazia sentido. Descobri-me a mim próprio no momento em que vi o meu reflexo no olhar alegre dela. Um livro repousava ao seu lado. Prostrei-me no chão e repousei a cabeça no seu colo sem nada dizer. Ela abriu o livro e continuou a historia que tinha começado quando eu tinha 5 ou 6 anos e me rendi á beleza daquele jardim.
Aprisionei-me nas minhas memórias. Libertei a minha alma. Nem sempre a realidade é a melhor fuga. Por vezes a melodia mais bonita provem de um violino sem cordas somente ouvido por aqueles que o querem entender...


Autoria de: Violino Sem Cordas