Foto tirada da net ao acaso
creditos.Autora: Isabel
http://www.olhares.com/sem_abrigo/foto910443.html
heroi das vielas
Caminhava como sempre naquela viela estreita. Cheirava a canela, alguém devia estar a fazer preparativos para o natal.
A barraca onde vivia era pequena demais, não tinha cozinha. Alimentava-se de restos que ia buscando nos caixotes do lixo. Há muito que tinha abandonado a vida social, estava cansado de tantos impostos, de ter que cumprir leis e ordens o dia inteiro.
Queria ser livre, e sem compromissos e sabia que a única solução era rasgar os documentos e fugir para longe.
Dei comigo num bairro da lata onde só encontrava deliquentes e gente que parecendo ter ainda uma vida normal! Era uma mentira, pois a realidade estava por trás daquelas tábuas que os albergava.
Sentia-me muito desconfortável, Não estava de todo preparado para tal. Não quero nunca voltar a pensar no que era! Esta ideia varre-me a cabeça, prometo-me mim mesmo que não vou pensar mais nisso, mas dou comigo a faze-lo sempre que por estas vielas passo e o cheiro a comida quente me passa pelas narinas sujas e um pouco enferrujadas, adormecidas! Sim, diria mesmo anestesiadas até de tanto mau cheiro.
Da janela do rés-do-chão no numero vinte, uma senhora de muita idade já, e com os ossos deformados pelas doenças... Tenta a todo custo descascar umas batatas para meter na panela que já ferve há tempos infinitos e já quase não tem água. Coitada
precisa de tanto tempo para fazer qualquer trabalho que para mim seria simples. Ela porem, demora horas. Ali fico parado e a olhar para a janela sem cortinas. A luz é escassa e o lugar da uma ideia de sombrio, como nos filmes criminais onde os ladrões se refugiam por ruas escuras e sombrias. Onde a musica faz o suspense misturada com aquelas imagens que nossas fantasias transportam até ao ponto onde eu me encontro. Ao clochard que vive debaixo da ponte, o sem abrigo que mora nos vãos de escadas de casas abandonadas e desfeitas.
Há quanto tempo já não vejo Tv. Já nem me lembro. Às vezes olhos aqueles plasmas expostos pela cidade e fico sentado ali algures num relvado com uma garrafa de vinho a meu lado e sinto-me como se estivesse na minha sala. Sentadinho no conforto do meu sofá com as pernas em cima da mesa de vidro e a ouvir a esposa a resmungar todas as vezes que o fazia.
Não, não estou sonhar de novo! Ocorreu-me
porque me recordo que a minha filha hoje ate faz anos. Quanto dava para poder ir ter com ela e dar-lhe uma prenda! Mas o quê? Será que o colar de pérolas que encontrei lhe agradava? Bem se o lavasse bem lavadinho até podia ser que nem notasse que o achei no contentor... Mas não. Não vou dar uma coisa achada no lixo a uma filha tão linda e exemplar, que sempre se portou bem. Não o melhor é mesmo não me aproximar do lugar onde mora, não quero que se envergonhe do pai. Desejo continuar a ser o seu herói desaparecido.
conto de ficção da autoria de; Alexandre Ferreira
sábado, novembro 18, 2006
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6 comentários:
Um conto interessante, Alex. A foto da Wind excelente e nós estávamos lá quando ela a tirou! Beijos para ti.
Está na hora de lembrar quem nada tem. A solidão em noite de Natal doi ainda mais!
Beijinhos
Franky
Quando se procura a solidão, é porque esta faz parte da vida e como tal preenche-nos.
Um abraço. Augusto
kerido Alexandre
gostaste
do "Acrósticos...na Noite..."?
ainda espero uma critica.
já fiz nona anestesia geral,
por essa razão ando tão "fugida".
mas
vou regressar em força.
estás convidado para o lançamento de
"A... B... C... do SONHO...",
no dia 1 de Dezembro,
em Viana do Castelo.
aparece.
jinhux létinha.
gostei do conto
Belo conto e obrigada pela foto.
Tenho uma ternura imensa por essa foto. Foi quando do jantar em homengem ao Fernando:Quando saimos do bar, deparámos com esse sem abrigo, dei-lhe a flor mais pequena e ele beijou-a:)
Depois disso abraçámo-nos e beijámo-nos.
Foi um momento único!
beijos
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