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sábado, novembro 18, 2006

Heroi das vielas

Foto tirada da net ao acaso
creditos.Autora: Isabel
http://www.olhares.com/sem_abrigo/foto910443.html


heroi das vielas

Caminhava como sempre naquela viela estreita. Cheirava a canela, alguém devia estar a fazer preparativos para o natal.
A barraca onde vivia era pequena demais, não tinha cozinha. Alimentava-se de restos que ia buscando nos caixotes do lixo. Há muito que tinha abandonado a vida social, estava cansado de tantos impostos, de ter que cumprir leis e ordens o dia inteiro.
Queria ser livre, e sem compromissos e sabia que a única solução era rasgar os documentos e fugir para longe.
Dei comigo num bairro da lata onde só encontrava deliquentes e gente que parecendo ter ainda uma vida normal! Era uma mentira, pois a realidade estava por trás daquelas tábuas que os albergava.
Sentia-me muito desconfortável, Não estava de todo preparado para tal. Não quero nunca voltar a pensar no que era! Esta ideia varre-me a cabeça, prometo-me mim mesmo que não vou pensar mais nisso, mas dou comigo a faze-lo sempre que por estas vielas passo e o cheiro a comida quente me passa pelas narinas sujas e um pouco enferrujadas, adormecidas! Sim, diria mesmo anestesiadas até de tanto mau cheiro.
Da janela do rés-do-chão no numero vinte, uma senhora de muita idade já, e com os ossos deformados pelas doenças... Tenta a todo custo descascar umas batatas para meter na panela que já ferve há tempos infinitos e já quase não tem água. Coitada
precisa de tanto tempo para fazer qualquer trabalho que para mim seria simples. Ela porem, demora horas. Ali fico parado e a olhar para a janela sem cortinas. A luz é escassa e o lugar da uma ideia de sombrio, como nos filmes criminais onde os ladrões se refugiam por ruas escuras e sombrias. Onde a musica faz o suspense misturada com aquelas imagens que nossas fantasias transportam até ao ponto onde eu me encontro. Ao clochard que vive debaixo da ponte, o sem abrigo que mora nos vãos de escadas de casas abandonadas e desfeitas.
Há quanto tempo já não vejo Tv. Já nem me lembro. Às vezes olhos aqueles plasmas expostos pela cidade e fico sentado ali algures num relvado com uma garrafa de vinho a meu lado e sinto-me como se estivesse na minha sala. Sentadinho no conforto do meu sofá com as pernas em cima da mesa de vidro e a ouvir a esposa a resmungar todas as vezes que o fazia.
Não, não estou sonhar de novo! Ocorreu-me
porque me recordo que a minha filha hoje ate faz anos. Quanto dava para poder ir ter com ela e dar-lhe uma prenda! Mas o quê? Será que o colar de pérolas que encontrei lhe agradava? Bem se o lavasse bem lavadinho até podia ser que nem notasse que o achei no contentor... Mas não. Não vou dar uma coisa achada no lixo a uma filha tão linda e exemplar, que sempre se portou bem. Não o melhor é mesmo não me aproximar do lugar onde mora, não quero que se envergonhe do pai. Desejo continuar a ser o seu herói desaparecido.

conto de ficção da autoria de; Alexandre Ferreira

6 comentários:

Maria Carvalho disse...

Um conto interessante, Alex. A foto da Wind excelente e nós estávamos lá quando ela a tirou! Beijos para ti.

Arte em Movimento disse...

Está na hora de lembrar quem nada tem. A solidão em noite de Natal doi ainda mais!
Beijinhos
Franky

augustoM disse...

Quando se procura a solidão, é porque esta faz parte da vida e como tal preenche-nos.
Um abraço. Augusto

"Sonhos Sonhados" e "Os Filmes da Minha Vida!" disse...

kerido Alexandre

gostaste
do "Acrósticos...na Noite..."?
ainda espero uma critica.

já fiz nona anestesia geral,
por essa razão ando tão "fugida".

mas
vou regressar em força.

estás convidado para o lançamento de
"A... B... C... do SONHO...",
no dia 1 de Dezembro,
em Viana do Castelo.

aparece.

jinhux létinha.

Göttlicher Teufel disse...

gostei do conto

wind disse...

Belo conto e obrigada pela foto.
Tenho uma ternura imensa por essa foto. Foi quando do jantar em homengem ao Fernando:Quando saimos do bar, deparámos com esse sem abrigo, dei-lhe a flor mais pequena e ele beijou-a:)
Depois disso abraçámo-nos e beijámo-nos.
Foi um momento único!
beijos

Menina bonita